domingo, 26 de agosto de 2007

Do livro Cirandas Eletrônicas de Jaiel de Assis



ARTE NEUROESTRUTURAL, POESIA EM DOR!

Abro esta poesia

Na décima primeira vértebra

Da Serra da Borborema

E vejo montados em elegantes cavalos de pau

Loise Bougeois, Goa, Picasso, Sandoval.

E uma mulher sem nome, sem fama, sem pudor.

Minhas mãos em sangue como um velho açougueiro,

Ou um neurocirurgião, que abre cabeças,

Cabeças cegas, apodrecidas, tombadas...

Esse ato de abrir é duro, quase sempre sangra,

Quase sempre choca! E faz a imagem borbulhante da dor,

Correr como lebre, faisca néon,

Em telas gigantescas com padrões acinzentados,

Rompendo o azul.

Picasso é extremamente fino em seus traços.

Ao lado de Goa e Sandoval,

Rasgam uma tela de Pedro Osmar,

E, por dentro do furo rasgo, retiram um manifesto,

Sobre a arte neuroestrutural,

Forma de índio e caboclo amazonense,

Correndo em canoa, dançando bumbais.

O boi-bumbá agora é um produto

Como margarina ou macarrão,

E em plena rua dos latinos brasilandas,

Na New York pop, comemos essa merco-arte,

Em grandes pratos de latão,

E o seu gosto é igual à salsa,

Ao merengue, ao rock, ao pop,

A pizza de varias camadas

Com muita maionese e pouca roupa.

A mulher sem nome, sem fama e sem pudor,

Beija Pedro Osmar na boca e junto destroçam

O bolo podre da arte.

No primeiro pedaço, cortado e pisado,

Rolam pelo tapete, músicas, poesias,

A arte apodrecida de Jaiel de Assis.

O cheiro é insuportável!

A arte velha, os índios aprisionados na tela,

Os caboclos amazonenses, reproduzidos na arte-gravura,

As cores macias do rio, da floresta,

Do eco-canibalismo tropical,

Escondendo no óleo sobre mata,

No bate tambor da febre no corpo,

Os calafrios ritmados da malária.

Ando do lado direito para o lado esquerdo da dor.

O que faço o que acho o que provo,

Nada me agrada, mas, apesar de tudo,

Continuo fazendo tudo igual,

E cobro dos outros a seda azul da criação.

Yanagi ri de mim

E em atitude de guerra e de vanguarda,

Coloca num gesto brusco e tribal,

30 colunas de formigas no meu olho direito.

A visão é surpreendente!

Luas de Júpiter nas cores de Rama!

À direita desfocada pela força da dor,

Crianças analfabetas, caboclinhos amazônidas,

Índios infectados, florestas queimando,

Piracema eletrônica,

Imagens e truques subindo o rio.

Karina enfia a caneta em minha costa

Para lembrar que a dor é a única coisa real na poesia.

Pedro Osmar, Picasso, Sandoval, Yanagi, Goa Loise Bougeois,

Parece que concordam comigo,

Mas, nada falam, não dizem nada,

Cada um para o seu lado cruzam o rio, fogem da serra,

Hospedam-se na outra margem da arte,

Criativos, impenetráveis, transformantes.

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