
ARTE NEUROESTRUTURAL, POESIA EM DOR!
Abro esta poesia
Na décima primeira vértebra
Da Serra da Borborema
E vejo montados em elegantes cavalos de pau
Loise Bougeois, Goa, Picasso, Sandoval.
E uma mulher sem nome, sem fama, sem pudor.
Minhas mãos em sangue como um velho açougueiro,
Ou um neurocirurgião, que abre cabeças,
Cabeças cegas, apodrecidas, tombadas...
Esse ato de abrir é duro, quase sempre sangra,
Quase sempre choca! E faz a imagem borbulhante da dor,
Correr como lebre, faisca néon,
Em telas gigantescas com padrões acinzentados,
Rompendo o azul.
Picasso é extremamente fino em seus traços.
Ao lado de Goa e Sandoval,
Rasgam uma tela de Pedro Osmar,
E, por dentro do furo rasgo, retiram um manifesto,
Sobre a arte neuroestrutural,
Forma de índio e caboclo amazonense,
Correndo em canoa, dançando bumbais.
O boi-bumbá agora é um produto
Como margarina ou macarrão,
E em plena rua dos latinos brasilandas,
Na New York pop, comemos essa merco-arte,
Em grandes pratos de latão,
E o seu gosto é igual à salsa,
Ao merengue, ao rock, ao pop,
A pizza de varias camadas
Com muita maionese e pouca roupa.
A mulher sem nome, sem fama e sem pudor,
Beija Pedro Osmar na boca e junto destroçam
O bolo podre da arte.
No primeiro pedaço, cortado e pisado,
Rolam pelo tapete, músicas, poesias,
A arte apodrecida de Jaiel de Assis.
O cheiro é insuportável!
A arte velha, os índios aprisionados na tela,
Os caboclos amazonenses, reproduzidos na arte-gravura,
As cores macias do rio, da floresta,
Do eco-canibalismo tropical,
Escondendo no óleo sobre mata,
No bate tambor da febre no corpo,
Os calafrios ritmados da malária.
Ando do lado direito para o lado esquerdo da dor.
O que faço o que acho o que provo,
Nada me agrada, mas, apesar de tudo,
Continuo fazendo tudo igual,
E cobro dos outros a seda azul da criação.
Yanagi ri de mim
E em atitude de guerra e de vanguarda,
Coloca num gesto brusco e tribal,
30 colunas de formigas no meu olho direito.
A visão é surpreendente!
Luas de Júpiter nas cores de Rama!
À direita desfocada pela força da dor,
Crianças analfabetas, caboclinhos amazônidas,
Índios infectados, florestas queimando,
Piracema eletrônica,
Imagens e truques subindo o rio.
Karina enfia a caneta em minha costa
Para lembrar que a dor é a única coisa real na poesia.
Pedro Osmar, Picasso, Sandoval, Yanagi, Goa Loise Bougeois,
Parece que concordam comigo,
Mas, nada falam, não dizem nada,
Cada um para o seu lado cruzam o rio, fogem da serra,
Hospedam-se na outra margem da arte,
Criativos, impenetráveis, transformantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário